Mês que vem começa o Ramadã ou Ramadan nos países islâmicos. Ele acontece no nono mês do calendário islâmico que é o mês em que o Alcorão foi revelado aos muçulmanos – “O mês do Ramadão foi o mês em que foi revelado o Alcorão, orientação para a humanidade e evidência de orientação e discernimento” – Alcorão 2:185. É o mês do jejum e os ânimos começam a se exaltar desde já por aqui. Se a devoção dos muçulmanos à religião já é grande, agora eles irão além das cinco orações por dia.
No islamismo, há 5 pilares básicos que você deve seguir para ser muçulmano:
- Adorar a um único Deus
- Orar 5 vezes por dia: na alvorada, ao meio do dia, no meio da tarde, no pôr-do-sol e a noite
- Ser caridoso – doar aos mais pobres ou Pagamento do Zakat, mas somente quem tem dinheiro para isso
- Jejuar todo mês de Ramadan
- Peregrinar à Meca pelo menos uma vez na vida – somente os que têm saúde e dinheiro para isso
Ou seja, se você não cumprir um dos cinco pilares, você não segue a religião como deveria. Por aqui, sempre ouvimos todos falarem que Deus é um só para todos, independentemente da religião. Os muçulmanos são pacíficos e acolhedores e os extremistas que vemos fazendo terrorismo por aí são uma minoria rebelde que não faz jus ao seu povo. Eles te recebem e te respeitam você sendo católico, judeu, budista etc. Tanto é que em algumas mesquitas há três ou cinco grandes bolas em suas torres. Quando há três, é uma referência às três religiões monoteístas: catolicismo, islamismo, judaísmo. Quando há cinco, é uma referência aos cinco pilares da religião.
E aqui as orações são levadas a sério pela maioria. Há tepetinhos em várias calçadas para as pessoas pararem ali mesmo para rezar, no meio da rua. Ou há quem carregue o seu e possa fazer isso onde quiser. Se alguém não pode rezar na hora em que há a chamada nas mesquitas, pode rezar depois. Já vi muita gente abandonar o posto de trabalho imediatamente para orar. Minha professora de francês é uma delas. Sai da aula todos os dias, no chamado das 20h, mais ou menos, para orar rapidinho, cerca de 5 minutos.
Eu sou católica, com forte influência espírita, com um pé em algumas coisas do judaísmo e o outro em algumas coisas do islamismo, crente em santos, entidades, elementos da natureza, ou seja, acredito em muita coisa e há algum tempo, vejo o maquiador Sal Moretti, que sigo nas redes sociais, falar da oração da madrugada. Ele acorda de madrugada para orar. Um dia, mandei mensagem para ele perguntando o por quê disso, e ele me explicou que há uma passagem bíblica que diz: “Eu amo os que me amam, e os que de madrugada me buscam me acharão.” (Pv. 8.17). Mais do que isso, como Sal me disse, é um ato de esforço, já que interromper o sono é um grande sacrifício para a maioria.
Há algumas teorias que dizem que esse provérbio, na verdade, quer dizer que “quem procura Deus cedo, logo no começo, antes do problema” e por isso o uso do termo “madrugada”, que é o que antecede um novo dia. Porém, é uma mensagem forte.
Sendo assim, como todos os dias eu acordo às 5h da manhã com o primeiro chamado para a reza muçulmana, já que a torre da Mesquita é praticamente em cima da minha cama, e tenho me mantido acordada para orar junto. A minha própria oração, do meu jeito, e depois eu volto a dormir. Não que minha vida tenha mudado, mas eu realmente sinto uma paz grande quando ouço esse chamado e quando faço minha oração junto. Acho que é uma corrente que se forma, sabe? (Obrigada, Sal! 🙂 )
Voltando ao Ramadan, participam desse jejum todos os homens a partir de 14 anos, mais ou menos, todas as meninas a partir do primeiro ciclo menstrual, e todos os homens, mulheres e idosos com saúde e com possibilidades de jejuam, exceto grávidas e lactantes. O jejum deve ser feito da alvorada ao pôr-do-sol, sendo proibidos qualquer tipo de alimentos e líquidos, além da relação sexual. É um momento tido como de purificação. Todos se dedicam 100% a Deus, a sí, à família. Há uma refeição que é feita antes do sol nascer e quando o sol se põe, todos podem comer mesmo antes da oração. Após essa refeição da noite, a maioria vai às mesquitas ou se reúnem com amigos e família para orar. Além disso, o esquema de trabalho muda, os horários das lojas mudam, os restaurantes podem até estar abertos, mas não servem comida aos muçulmanos, apenas aos turistas. É também a fase de férias escolares. Eu não recomendo vir ao Marrocos nessa época… rs
Como tudo na vida, há quem não cumpra o jejum e coma escondido. Escondido dos outros, obviamente para não ser julgado, mas não de Deus, como falam aqui, já que ele tudo vê. Mas caso o “infrator” seja descoberto, ele tem que jejuar por 60 dias seguidos. E aqueles que não podem cumprir o jejum por motivo de viagem ou algo assim, deverá o fazer assim que possível. E para os que preferem ser mais sinceros, há a opção de viajar, se afastar do país e das “obrigações” e ir curtir férias em algum outro lugar.
Na noite do 26º para o 27º dia do Ramadan é comemorada a noite em que o Profeta Maomé recebeu a primeira revelação do Alcorão pelo Anjo Gabriel, e é chamada de Laylat Al Kadr. Acredita-se que nessa noite todas as súplicas são atendidas, todas as orações ouvidas.
Já ao término do Ramadan há a celebração chamada Eid al-Fitr, que é um dia de festa, em alguns lugares até três dias, em que todos colocam roupas novas, há comida em abundância para todos, incluindo os mais pobres, que recebem doações. É a celebração também do mês Shawwal, o décimo mês do calendário islâmico.
E para finalizar, 70 dias após o término do Ramadan há a Eid Al-Adha, que é a festa que sucede a realização do Hajj, a peregrinação à Meca, também conhecida como Festa do Sacrifício ou Festa do Carneiro. A festa acontece em referência à passagem que conta que o Profeta Abraão teve um sonho que deveria sacrificar seu filho Ismail em nome de sua devoção por Deus. Decidido a fazer isso, tamanha sua crença me Deus, ele avisou seu filho, que muito fiel à sua crença também, aceitou a situação. Abraão afiou a faca e posicionou-a no pescoço de Ismail, mas ela não cortava. Então, o Anjo Gabriel, enviado por Deus, disse que a submissão de Abraão estava aceita, já que ele iria fazer um ato doloridíssimo em nome de Deus e mandou que ele substituísse Ismail por um carneiro. E assim deu-se a Festa do Sacrifício que é para os muçulmanos como o Natal é para os cristãos.
Há alguns anos, participo dela no Brasil, com meu sogro, que é marroquino e mora há mais de 30 anos no Brasil, e dizem que ele faz um carneiro maravilhoso. Eu não sei se é realmente delicioso porque eu “cometo o pecado” de não comer já que não como carne vermelha. Eu me sinto como se não comesse panetone no Natal, mas como em todas as religiões, o importante é celebrar a fé, não é?
Estou adorando tudo! Você vai jejuar? Fiquei tão interessada, que deu vontade de tentar! Rsrsrs
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Não vou, não! Poderia até tentar por um período do dia, que é mais executável, mas o dia todo não dá pq será numa época que anoitece às 20h30, ou seja, serão 13h no mínimo por dia…
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